Em um texto disponível
na internet, Andy Rubin dá adeus àquilo que tomou
quase dez anos de sua vida. “Os bons e os maus momentos mudaram a maneira que
penso sobre muitas coisas, mas, mais importante, eles me lembram o quão eu
posso estar completo com um computador estúpido e um modem.”
O maquinário a que ele se refere passa longe do
Nexus 4, o último smartphone do Google. A despedida de Rubin, no caso, era para
a rede BBS que ele operava nos anos 80. A plataforma data de uma era medieval
da internet, no qual terminais se conectavam via linha telefônica para trocar
algumas mensagens e arquivos menores que a capacidade de um disquete de 3 ½
polegadas.
Era também um período romântico de programadores
e entusiastas dispostos a trabalhar para o funcionamento de software, hardware
e rede. Foi nesse meio que Rubin desenvolveu as habilidades que o levaram, anos
depois, à criação do Android.
O fato ocorreu no fim dos anos 2000, não sem
antes uma história digna dos heróis do Vale do Silício. Rubin vinha de uma
família de classe média nova-iorquina e, após a universidade, foi trabalhar com
robótica na Carl Zeiss -- a companhia por trás das famosas lentes fotográficas.
Seguindo a trilha dos robôs, Rubin conseguiu
emprego na Suíça, de onde só saiu por um encontro ao acaso. Durante um passeio
na praia ele tomou conversa com um engenheiro de uma companhia com novos
projetos para computação, a Apple.
O bate-papo rendeu outro convite para trabalho,
agora nos Estados Unidos. O Vale do Silício era o novo local de Rubin e foi lá
que, anos mais tarde, ele criou seu primeiro startup, a Danger. A empresa
germinou a cabeça do engenheiro para o Android sem deixá-lo esquecer das
origens.
Do berço da programação em linhas telefônicas
Rubin também trouxe o gosto pela liberdade. Na carta de despedida ao seu BBS,
escrita em 1991, o programador ressalta: “Informação não é somente para quem
paga por ela”. O lema está na base do sistema operacional criado por ele em
2002.
Totalmente em código-livre, o Android é baseado
em Linux. Isto significa dizer que qualquer pessoa pode alterar seu sistema,
modificar seus recursos, montar e desmontar seus padrões. Tudo isso sem
precisar pagar por algo.
O Google não ganha dinheiro com o Android. Não
diretamente. Foi isso que trouxe a empresa para perto de Rubin em 2005. A
filosofia da companhia é trazer o maior número de pessoas para seu ecossistema.
Possíveis cobranças e certas publicidades vêm a seguir.
Rubin concordou com isso e aceitou o convite
para presidir a área de Android no Google. Sob seu comando, os smartphones
tornaram-se terminais contemporâneos, com acesso a e-mail, busca vídeos, fotos,
entre outras centenas de recursos. E o gigante da tecnologia aumentou seu
alcance nos serviços digitais.
De uma fabricante a utilizar o Android, a HTC
com o G1 de 2007, o Google passou a ter 60 em 2013, segundo Larry Page, CEO da
empresa. Ele ainda afirma que atualmente existem 750 milhões de aparelhos e 25
bilhões de aplicativos com seu sistema operacional.
Os grandiosos números, relatados no comunicado
oficial da saída de Rubin, não falam de lucros. Analistas afirmam que o Google
ainda gasta mais do que lucra com o desenvolvimento da plataforma, mesmo a
custo de sua popularidade.
No entanto, as cifras isentam Rubin de uma
demissão. Tanto que ele continuará na empresa, mas ainda não se sabe o cargo. O
Android passa ao cargo do também responsável pelo Chrome OS, o indiano Sundar
Pichai. Essa é outra história que merece ser contada.